Reassisti Príncipe do Egito

Sérgio E. Debortoli
2 min readOct 1, 2021

Copiado e alterado de meu review no site Letterboxd

Talvez um dos filmes que mais vi na vida devido à minha criação cristã e pelo vhs disponível em casa por muito tempo.
Fui procurar na Netflix por estar lendo Êxodo com a Heloísa e me surpreendi ao saber que amanhã não estará mais disponível nesse canal.
Percebi o acréscimo do aviso antes do título, uma espécie de "assista com moderação" que também tem em E O Vento Levou...

“o filme que você está prestes a assistir é uma adaptação da história de Êxodos.

Mesmo que licenças artísticas e históricas tenham sido tomadas, nós acreditamos que a obra é fiel a sua essência, a valores e a integridade de uma história que é pilar de fé para milhões de pessoas no mundo". Tradução livre.

Esse aviso me fez pensar na minha relação com o filme, em como é, pra mim, impossível desassociar minha formação, crenças e nostalgia com essa obra.
Algumas cenas são carregadas de um tom macabro e são até assustadoras, o que faz sentido haver uma mensagem de "é sobre a fé de um povo", e essa fé aqui transmitida com fundos aterrorizantes, podendo muitas vezes criar preconceitos com estranhos e justificar mortes e assassinatos, pois no filme o próprio Deus mata crianças e destrói uma nação. Por isso mesmo, situações que não fazem o menor sentido aos alheios dessa fé e até causam repulsa à religião, são motivos de temor e reverência à pessoas que crêem e se apegam a esta mesma fé.
Essa mensagem inicial, que é o motivo todo da minha reflexão e desse review, foi mesmo muito importante pra mim que sente a necessidade de justificar meu apego a essa obra, mesmo não sabendo dizer o porquê.
As músicas são a melhor coisa e a tradução de todas as falas e letras no Brasil aumentam o caráter cristão/evangélico em relação a visão judaica/secular da obra original. Traduções brasileiras de filmes de animação são praticamente autorais: criam sentidos novos e se comunicam com o seu público de maneira mais direta do que a laicidade do acomodado cinema estadonidense.
Então tudo o que sinto e digo sobre o filme diz respeito à sua versão brasileira e seria hipocrisia minha dizer o contrário.
Isso me leva a outra reflexão: eu fui marcado pela versão brasileira de Príncipe do Egito, que veio de outro país com outro idioma, outras vozes e outras palavras, adaptado de um livro bíblico escrito a mais de cinco mil anos atrás, que também foi traduzido de um outro idioma, no outro lado do mundo. Então é injusto deslegitimizar a versão brasileira, ou um filme de animação que altera muito a versão original de um livro bíblico, sendo que nosso sentimento em relação às obras são tão verdadeiros, e como a fé, inexplicáveis.

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